16.7.07

Revelations. Liturgical Art for the New Millennium


Can the Church and art go back to nourishing each other? Timothy Verdon says yes. And the first talented fruits show it.

by Sandro Magister

ROMA - The Christ in the photo above is more a risen Christ upon the cross than one who is crucified. The artist who created it is Giuliano Vangi; it hangs over the altar at Padua´s cathedral; Timothy Verdon dedicates a few pages to it in the final chapter of his latest book: "Seeing the Mystery. The Artistic Genius of the Catholic Liturgy."Those pages are the ones that contain his latest ideas. The preceding pages -- while masterful - echo ideas in an earlier book by Verdon, "Sacred Art in Italy," a splendid elucidation of 20 centuries of Christian art seen in relationship to its original place in churches, liturgies, in the Christian people celebrating the mysteries of faith.It was precisely the drying up of this vein of liturgical art, beginning in the 19th century, that gave rise to the fear that there would no longer be anything able to give life to miracles like the Ravenna´s mosaics or the architectural designs of a Bernini.Sacred art became arid at the same pace as the loss of its language on the part of the Church. The Church no longer knew how to be a commissioner of art; it no longer knew how to stimulate in artists a creativity at the level of the celebrated mysteries.But Verdon - an American art historian who studied at Yale and then moved to Florence, where he is a priest and directs the diocesan office for catechesis through art - explains that this is not the case. Just as the Council of Trent needed two generations to give form to a language expressive of its ideals - the triumphant Baroque of Rubens and Bernini - so also the Second Vatican Council can produce fruit in the field of art. And Giuliano Vangi´s Christ in the cathedral of Padua is one of these fruits. In silver and nickel, gold and bronze, it shines to the faithful like "the lightening flashes and lights up the sky from one side to the other," because "so will the Son of Man be in his day" (Luke 17:24). It´s a futuristic, almost technological Christ. His cross, spread like crystal, is six meters high and ranges from dark blue at the base - the night of fallen man - to sapphire and lucid white at the top - the burning of the light in which the Father dwells.Jesus doesn´t even seem nailed to the cross. Rather he rests on it, with his arms wide open not in supplication but in the redemptive embrace of all humanity: "When I am lifted up I will draw all men to myself" (John 12:32). His eyes look at you with the intimate profundity of a personal relationship.He is the Living One above an altar that seems to be the burial stone rolled away by the angels. Upon this altar the faithful see Mass celebrated. But the artist pulls the blindfold from their eyes and shows the ultimate meaning of Christian celebration, the day of the Lord, from the cross to the Resurrection to the second coming.

The book:Timothy Verdon, "Vedere il mistero. Il genio artistico della liturgia cattolica", Mondadori, Milano, 2003, pagine 152, euro 23,00.

29.5.07

«Eis o Homem»: extractos da intervenção do Cardeal Patriarca no encerramento da sessão sobre «A Beleza» (24.05.2007)

"Há duas palavras-chave que acabam por influenciar a acção pastoral da Igreja. Essas duas palavras são “convencer” e “atrair”. Convencer é o objectivo da palavra, da inteligência racional que leva à convicção. Atrair é, inevitavelmente, o efeito da beleza. A palavra convence, a beleza atrai.
Foi aqui dito pelo João Bénard da Costa que não havia nenhuma expressão da beleza de Jesus Cristo. Nisto eu não estou de acordo com ele. Pela pena do evangelista S. João, o próprio Senhor diz que “ninguém vem a Mim se o Pai não o atrair”; «ninguém vem a Mim se não se sentir atraído». E Ele atraía. Naquela crise provocada pelo discurso do pão da vida, depois do milagre da multiplicação dos pães, Pedro, em nome de todos, diz: «Senhor, a gente não te percebe, mas a quem havemos de ir? Só Tu tens palavras de vida eterna». Foi por ser atraente, irresistivelmente atraente, que Ele era seguido. Na missão da Igreja, os dois verbos têm o seu lugar.

Na missão da Igreja, os dois verbos têm o seu lugar. Mas sempre que a Igreja privilegia ou se limita a tentar convencer, perde parte da sua acutilância, da sua capacidade de trazer pessoas para o Mistério. (…)
[No seguimento do que foi dito esta noite, podíamos perguntar] porque é que os templos são belos? Podíamos continuar a pergunta: porque é que a Liturgia deve ser bela? Porque é que esta noite foi bela? É porque a Igreja, sempre, não se limitou a tentar convencer. Percebeu sempre que era preciso atrair.
Isto põe inevitavelmente a questão entre a beleza e a verdade. E temos várias abordagens desta questão, desde a Época Clássica, em que a beleza produzida na arte humana era considerada parte das imagens fugitivas, fugidias, e que portanto não podiam exprimir a verdade que pertencia ao mundo eterno das ideias divinas. Até João Paulo II, referindo-se ao bem e ao amor lhes chamou o “Esplendor da Verdade”, “Veritatis Splendor”.

A palavra e a beleza são duas linguagens da revelação do Mistério: a palavra revela, a beleza desvela. Foi aqui também dito esta noite que a verdade acaba sempre por relativizar, denunciar as formas humanas de beleza produzidas pelos artistas. Eu penso que é sobretudo a verdade captada no Mistério da Revelação – que é verdade, mistério e beleza – que interpela inevitavelmente todas as formas finitas já produzidas de beleza, que vão mais longe; e que a partir da luz que delas já brilha, uma luz maior possa brilhar.
A beleza é sempre um raio de luz que toca no coração dos homens e que nos apanha. A beleza é sempre, mesmo que não se saiba, uma experiência de eternidade, uma experiência do divino.
Muito obrigado a todos por terem participado nestas nossas sessões. Muito obrigado aos artistas, aos músicos que nos acompanharam, ajudando a criar aquela experiência concreta de beleza. Obrigado aos intervenientes desta noite, que foram realmente mãos santas com corações de santo. Muito obrigado."

O Belo: uma experiência de eternidade e de divino

Depois de se reflectir sobre a verdade e o bem, o ciclo de conferências “Eis o Homem”, terminou com uma conferência sobre o belo.
Jorge Silva Melo começou por considerar que o artista faz entender aos outros o que entende. O Director Artístico da sociedade Artistas Unidos relembrou Diderot pois este referia-se inúmeras vezes à Cúpula da Basílica de São Pedro como coisa impossível, “uma experiência estética que considerou ser um escândalo, que considerava belo porque ultrapassava as necessidades, porque a sua concepção não era necessária para as coisas práticas”. No Séc XVIII, continuou, o que é belo “é aquilo que é justo e adequado. Nos anos 20, no cinema, um plano era belo pela sua adequação, a justeza correspondia à beleza”. A beleza pode-se adequar ao bem, “sendo esta a ponte que nos liga ao bem, a adequação”.
Actualmente “o belo já não interessa, mas antes o sórdido e o feio”. O belo está no limite da verdade. “A verdade vai deitando abaixo o que antes consideramos belo. Algumas obras belas vão sendo recuperadas porque novos elementos surgem para nos iluminar e voltar a considerar o passado - é o renascer”.
“O que me parece ser o trabalho de quem cria é que, e estando nós em tempo de Pentecostes, poucos conseguem em alguma coisa, ir transformando. O que os artistas oferecem sempre, o belo como norma como aproximação do justo e bem, ou como destruído pela verdade, ou transformado numa santa verdade, aparece como um trabalho militante de quem quer encontrar as novas formas”.
O Director da Cinemateca Portuguesa iniciou a sua participação na conferência com três questões. “Porquê e o que chamamos belo, o que nos faz todos estarmos de acordo que este sítio - referindo-se à Sé Catedral de Lisboa -, mesmo que não estivesse afecta ao culto, impõe pela sua estrutura, impõe o sentimento do belo?”
E prosseguiu. “Porque é que não só na religião católica mas em todas as religiões que os templos e lugares de oração foram lugares de beleza?”, referindo-se a exemplos do Ocidente a Oriente, da Grécia antiga, “os grande templos são sempre das grandes obras dessas civilizações? Um lugar para rezar e não para ver uma coisa bela?”
E terceira questão - “Se lermos os Evangelhos, não há praticamente referências estéticas, não se diz se Jesus Cristo era ou não belo”, apenas encontrando uma excepção no momento em que Cristo faz a comparação entre os líricos do campo e as vestes do Rei Salomão. “Não é abordado directamente, mas fica implícito”, explica João Bénard da Costa.
Todas as perguntas apontam para “a mesma ordem de mistério”. Ao colocar a questão, em todas as meditações e reflexões sobre o belo, “o que é a imutabilidade ou permanência do belo, como se estabelecem conceitos em torno do belo”, o Director da Cinemateca Portuguesa aponta que “tudo é relativo, o belo hoje deixará de o ser amanhã, porque o código de beleza muda”. Mas ao mesmo tempo aponta que “encontramos o desmentido permanente a isso mesmo porque uma estátua grega, apesar de transformada ou contestada, continua a ser o mesmo ideal”.
“A beleza cada vez se percebe menos e não mais”, reflectiu. O fundamental do encontro surge na “ordem do mistério e perfeitamente inexplicável”. A arte “não permitia admitir um critério ou termo”.
Platão entendeu que “não era só no mundo sensível que o belo se impunha”. Surgindo daqui nova interrogação que João Bénard da Costa questionou - “haverá beleza noutro mundo para quem acredita nele? A bondade e verdade podem existir fora de um contexto sensível? Mas num mundo só belo ou só de bondade perdia-se o conceito de belo e de bondade”, acrescenta, pois considera que “a obra de arte é uma compensação a um terror que a vida inspira”, valores que “não existem fora do nosso mundo sensível”.
João Bénard da Costa recorda um quadro português, de autor que afirma desconhecer, que representa o momento em que Pilatos apresenta Cristo à multidão, eis o homem - Ecce Homo. “Não conheço outros, que representem a mesma cena onde Cristo tem os olhos fechados”, e explica que nesse moemnto da condenação, em que se cumpre o que estava destinado, “só há as trevas e a morte, e a beleza desaparece”. Por isso conclui que a beleza é uma afirmação da vida e “da nossa vida sensível, da nossa carnalidade e da nossa sensibilidade, algo que ultrapassa a nossa própria dimensão”.
No final, o Cardeal D. José Policarpo referir que a acção central da Igreja se podia resumir em dois verbos - convencer e atrair. “Convencer é o objectivo da palavra, atrair é inevitavelmente o efeito da beleza. A palavra convence, a beleza atrai”.
Discordando com João Bénard da Costa, acerca da ausência de expressões da beleza de Jesus Cristo, D. José Policarpo recordou algumas passagens “irresistivelmente atraentes”.
“Porque que é que os tempos são belos? Podíamos continuar a pergunta e chegar até à questão de porque é que a liturgia deve ser bela? porque é que esta noite foi bela? E porque é que a Igreja sempre não se limitou a tentar convencer, mas percebeu sempre que era preciso atrair e inevitavelmente põe a questão da beleza e da verdade”, considerou.
João Paulo II chamou “o esplendor da verdade” ao amor praticado pelos cristãos. A palavra e a beleza “são duas linguagens de abordagem do mistério, da revelação do mistério. A palavra revela, a beleza desvela”, afirmou o Cardeal patriarca, que considerou a beleza “uma experiência de eternidade e de divino”.

24.5.07

Ermida do Cristo do Silêncio


Do programa preliminar proposto, relevamos a vontade de adaptação de um posto de transformação de energia, desactivado, a um espaço de contemplação e silêncio, aberto à comunidade local e de apoio à dinâmica pastoral da comunidade religiosa que o integra.
Um volume paralelipipédico com 25 m2 de área e uma altura interior de quatro metros, constitui o suporte e oportunidade de regeneração de um espaço desvitalizado. Procurou-se a forma envolvente e unificada em torno do altar restituindo tangibilidade às reformas profundas do Concilio do Vaticano II.
Propôs-se a reorganização espacial interior da primitiva área técnica, filtrando a luz exterior e revestindo as paredes de branco... Um banco em madeira de riga abraça o espaço, convocando a identidade de uma comunidade reunida em torno de um altar.
No exterior, uma estrutura metálica de ferro e arame zincado conduzirá o revestimento final em planta trepadeira caduca, recaracterizando o volume primitivo. O revestimento final exterior em vinha virgem, procura no ciclo das estações e na metáfora bíblica do “Vinhateiro” a dimensão universal da Igreja.
Arquitecto Bernardo Pizarro Miranda


Projecto
Ermida do Cristo do Silêncio
Localização
Casa de Oração de Santa Rafaela Maria, Quinta de Santo António, Serra do Louro, Palmela
Datas
2005
Arquitectura
Bernardo Pizarro Miranda
Colaboração
Dina Gonçalves Ferreira e Miguel Gorgulho
Clientes
Congregação das Escravas do Sagrado Coração de Jesus
Fotografia
DMF Fotografia, Lda Daniel Malhão, Bernardo Pizarro Miranda

23.5.07

O Belo - Conferência

Inserida no Programa "Ecce Homo", que com ela termina, o Departamento de Comunicação e da Cultura do Patriarcado de Lisboa organiza uma conferência sobre o "Belo" a ter lugar na Sé Patriarcal no dia 24 de Maio de 2007 pelas 21h30m.
Os intervernientes serão:
João Bénard da Costa - Director da Cinemateca Portuguesa
Jorge Silva Melo - Director Artístico da sociedade Artistas Unidos
Moderados por Paulo Vale (Professor Universitário)
A conferência será encerrada por Dom José Policarpo, Cardeal Patriarca.

4.5.07

Igreja da Santíssima Trindade em Fátima

Quem se deslocar a Fátima por estes dias vai encontrar a nova igreja da Santíssima Trindade quase pronta.
Lá dentro estão a ser efectuados os acabamentos. Curioso é o facto do altar do novo templo com nove mil lugares sentados ficar em linha recta em relação ao altar do Recinto do Santuário de Fátima, local onde é celebrada a eucaristia, em muitas peregrinações, naquele espaço.

Os responsáveis do Santuário adiantam que a obra está a “seguir o ritmo certo” e que ficará concluída mesmo a tempo de poder ser inaugurada a 13 de Outubro de 2007, por ocasião do 90º aniversário das Aparições de Nossa Senhora aos videntes.
Nas obras está em curso a empreitada 4, iniciada em Fevereiro de 2006 e que diz respeito à instalação de equipamentos eléctricos e de segurança, gestão técnica e electro-acústica, no valor de 5.700.897.55 euros.

Enquanto isso, e quanto aos últimos pormenores de embelezamento do interior e exterior, o Santuário de Fátima já seleccionou a proposta do artista Robert Schad, de França, para executar a obra "Cruz Alta", a instalar no exterior da igreja da Santíssima Trindade. Trata-se de uma peça de 34 metros de altura ao nível do solo e cerca de 17 metros de largura transversal.
Ainda quanto a iconografia, no interior da nova igreja, o Santuário de Fátima assinou contratos com três artistas internacionais, na sequência do concurso. Pedro Calapez, fará o painel superior da entrada principal da Igreja da Santíssima Trindade. Esta entrada é dedicada aos mistérios do Rosário.
Maria Loizidou, de Nicosia, Chipre, fará a escultura do pórtico de entrada “A tree dimensional piece in the church’s entrace portico”.
Catherine Green, da Irlanda, fará o crucifixo interior da Igreja da Santíssima Trindade, uma cruz de bronze com figura de Cristo.


3.5.07

A Arte Sacra segundo Cláudio Pastro



A propósito da visita próxima do Papa Bento XVI ao Brasil, a agência ZENIT entrevistou o artista plástico brasileiro Cláudio Pastro, responsável pelo projeto artístico do interior da capela de Bento XVI em seu aposento no Seminário Bom Jesus em Aparecida.
Cláudio Pastro é um dos mais renomados nomes da arte sacra no Brasil, trabalhou na construção de cerca de 200 igrejas nos últimos 30 anos. É também o responsável por toda parte de arte que está sendo realizada no interior da Basílica do Santuário de Nossa Senhora Aparecida.

-Como será a capela do Papa?
-Cláudio Pastro: Como se trata de uma capela que será usada primeiramente pelo Papa Bento XVI, eu tive de ter muito critério. Primeiro fui conhecer mais Bento XVI por meio de alguns livros, pois, além de um grande teólogo, ele é um grande conhecedor de liturgia. A capela é um espaço pequeno, com cerca de 10 metros quadrados, para quatro ou cinco pessoas. É uma capela que primeiramente tem a preocupação litúrgica, e segundo tem também a preocupação de ser um lugar de intimidade, de oração. Não se poderia repetir o mesmo espaço que um quarto, porque uma capela é um espaço sagrado, não é como uma dependência comum de toda a casa. Então pensei em fazer o forro em duas águas, no espaço rectangular, que lembra uma arca. A arca em termos religiosos, está também ligada à palavra santuário, que seria na realidade um cofre onde há um tesouro, uma relíquia. O tesouro único para qualquer cristão baptizado e também para o Papa é Jesus Cristo.
O altar é pequeno, de 1,2 x 0,7 metros, feito todo em aço inoxidável e uma peça de granito por cima. O aço porque lembra a prata. O ambão também é em aço. As paredes são todas brancas. No fundo, temos uma pequena janela redonda, de cerca de 60 centímetros de diâmetro, para que o Papa possa ver também um pouco do céu e não tenha a sensação de estar encaixotado ali. Há apenas uma poltrona e um genuflexório para o Santo Padre, e mais três ou quatro cubos para quem quiser ou for acompanhar uma missa particular. Então é uma capela com paredes brancas, muito simples, mas bem litúrgica, segundo a própria visão da Igreja e particularmente do Papa.
-Como fazer um trabalho em arte sacra que preserve a riqueza da Igreja e também capte os sinais dos tempos e das linguagens?
-Cláudio Pastro: O tempo passa sempre. O sagrado, que está ligado à eternidade, fala aos homens de todas as gerações. Uma imagem, uma pintura, uma escultura, um gesto de beleza que está ligado ao sagrado é uma linguagem universal que toca o mais íntimo de cada ser humano, que não nos cabe. Fazer arte sacra não é como encomendar uma peça de automóvel. Infelizmente, quem tem menos conhecimento disso hoje é o clero. Vê-se que os leigos estão buscando isso. Buscando uma vivência cristã profunda que permite o sagrado entrar na vida. É o sagrado que nos educa, não somos nós, com nossos interesses e nem com as nossas forças. E o que é o sagrado? É a presença do próprio Deus. Dando um exemplo, neste contexto de sagrado, o silêncio é fundamental. Na Basílica de Aparecida está escrito: "Silêncio, estamos orando". Eu disse para mudarmos essa placa e escrever: "O silêncio é oração". Quando você faz silêncio, você dá espaço para Deus falar. Quando tem só o essencial, você dá espaço para Deus entrar. Se você começa a encher com florzinhas, uma estátua aqui e outra ali, uma cortina acolá, não sobra espaço para Deus. A Igreja tem um jeito de ser e existir desde Jesus que se impõe no tempo e no espaço. Quando eu faço uma obra de arte, eu nunca penso nas pessoas, em como as pessoas vêem isso, mas eu estou interessado numa fidelidade, numa profundidade e numa espiritualidade séria. Depois é o Cristo que vai falar.

19.4.07

“Fazer ver o invisível”


Ilda David - Genesis

A Bíblia aparece-nos disseminada pelo pensamento, imaginação e quotidiano. Ela continua a ser um texto, claro. Mas também, e de um modo irrecusável, a Bíblia constitui hoje um metatexto, uma espécie de chave indispensável à decifração do real. Da filosofia às ciências políticas, da psicanálise à literatura, da arquitectura explícita das cidades ao desenho implícito dos afectos, da arte dita sacra às formas da expressão que enchem, por toda a parte, galerias, museus, escaparates: a Bíblia é um parceiro, voluntário ou involuntário, nessa comunicação global.
Tem-se tornado justamente famosa a anotação de William Blake que chama às Escrituras judaico-cristãs «o grande códice», reconhecendo quanto a actividade simbólica e cultural do Ocidente foi ininterruptamente fecundada pelo texto e pela simbólica bíblicas. A Bíblia representa uma espécie de “atlas iconográfico”, “estaleiro de símbolos” ou “imenso dicionário”, como Claudel lhe chamou. É um reservatório de histórias, um armário cheio de personagens, um teatro do natural e do sobrenatural, um fascinante laboratório de linguagens. Desconhecer a Bíblia não é apenas uma carência do ponto de vista religioso, mas é também uma forma de iliteracia cultural, pois significa perder de vista uma parte decisiva do horizonte histórico e de sentido onde nos inscrevemos.

Alguns projectos recentes colocaram o texto Bíblico no centro da atenção criativa de alguns artistas plásticos portugueses de primeira grandeza: António Sena, Ilda David', Pedro Proença…

Para ver em exposição conjunta, no Mosteiro de São Vicente de Fora.
Maio de 2007

(Observatório da Cultura, nº8, Abril, 2007, Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura)

9.4.07

Verdadeiramente, Ele Ressuscitou!


Oscar Jose Suarez
Jesus com discípulos de Emaus 1962


Χριστος ανεστη! - Cristo ressuscitou!

Αληθως ανεστη! - Verdadeiramente Ele ressuscitou!


Saudação e resposta, proclamadas desde o Domingo de Páscoa até a Ascenção, pelos Cristãos Ortodoxos.

5.4.07

Henri Matisse: Le Chemin de Croix


Guiados pelas imagens de Henri Matisse aqui
Unamo-nos à Paixão de Cristo, para mais o amar e seguir.

2.4.07

Henri Matisse
Chapelle de Notre Dame du Rosaire à Vence

Au terme de sa vie, le peintre Henri Matisse choisit de se retirer sur la Côte d'Azur, séduit par les couleurs et la lumière de ces lieux. Malade, c'est à Vence qu'il vient résider, de 1943 à 1949. Sa garde-malade, Monique Bourgeois, devient sa confidente, son modèle. Mais en 1946, elle décide d'entrer chez les Dominicaines, à Vence, devenant Sœur Jacques-Marie.


Continuant à soigner le peintre, elle lui demande de décorer l'oratoire de la communauté. Mais Matisse voit plus grand, il propose de construire une chapelle : "Je veux que les visiteurs de la Chapelle éprouvent un allégement d'esprit, qu'ils se retrouvent dans un milieu où l'esprit s'élève, où la pensée éclaire, où le sentiment lui même est allégé..."


Avec le Frère Rayssiguier et le Père Couturier, conseillés par les architectes Auguste Perret et Milon de Peillon, entourés des artisans de Vence, Henri Matisse imagine, conçoit et réalise cette Chapelle, qui pour lui représentait l'aboutissement d'une recherche de concision et de dépouillement, où il atteint, selon ses mots, à "un art d'équilibre, de pureté, de tranquillité".



Très malade, l'artiste n'a pu assister à l'inauguration de son œuvre, en 25 juin 1951. Il écrivit ceci à cette occasion: "Je n'ai pas cherché la beauté, j'ai cherché la vérité. Je vous présente en toute humilité la chapelle du Rosaire des dominicaines de Vence… Cette œuvre m'a demandé quatre années d'un travail exclusif et assidu. Elle est le résultat de toute la vie active… Je la considère, malgré toutes ses imperfections, comme un chef-d'œuvre".



Dialogue Picasso-Matisse, à propos de la Chapelle du Rosaire:
Picasso: "Mais pourquoi faites-vous ces choses-là? Je serais d'accord si vous étiez croyant. Dans le cas contraire, je pense que vous n'en avez moralement pas le droit."
Matisse: "Oui, je fais ma prière, et vous aussi, et vous le savez très bien: quand tout va mal, nous nous jetons dans la prière, pour retrouver le climat de notre première communion. Et vous le faites, vous aussi." Il n'a pas dit non. "Au fond, Picasso, il ne faut pas que nous fassions les malins. Vous êtes comme moi: ce que nous cherchons tous à retrouver en art, c'est le climat de notre première communion."

30.3.07

Grande Silêncio II

A deslocação a um cinema para ver um documentário de cerca de três horas sobre a vida monástica dos cartuxos (a ordem de clausura com regras mais ascéticas) – filmado com som ambiente, luz natural e sem equipa técnica, que não o realizador, segundo regras estabelecidas pelo abade para, dezasseis anos após o pedido de Gröning, autorizar a entrada na Cartuxa – é experiência radical a que não aconselharia noventa por cento dos meus amigos. Tudo levava a imaginar um filme chatíssimo, e apenas uma conjugação de interesse artístico e religioso me levou aceitar a experiência. Sim, a experiência, porque é disso que o filme trata. A experiência de partilhar uma forma de vida exótica perante os padrões de vida de hoje em dia. Mais do que “entrar” no silêncio, entramos num mundo paralelo em que o tempo é conceito diferente, regrado e repetitivo, mas tranquilo.
A clausura sempre foi uma manifestação de fé que tinha grande dificuldade em compreender. O que levaria um ser humano livre a deixar-se reger por um regime de vida profundamente ascético e que tornava a sua existência um mero ritual repetitivo de oração? Porque motivo alguém escolhe, no mundo de hoje em que as liberdades são conhecidas por (quase) todos, uma vida em que o mundo é apenas uma existência física para lá de muros e paredes? O filme não procura esta resposta, como aliás não procura nenhuma resposta, seguindo o rigor jornalístico na forma com se “limita” a mostrar uma vivência, uma opção de vida, sem um julgamento moral ou social. Gröning não nos diz que esta reclusão, ou qualquer outra reclusão, é boa ou má, aceitável ou não, apenas nos mostra com crueza e rigor como é vivida essa reclusão. Claro que observar como é a vida de clausura nos permite ter o nosso próprio julgamento, não condicionado por ideias veiculadas no filme, mas sim pelo nosso julgamento perante a realidade que nos é mostrada. Ao ver como é a vida destes monges, consigo melhor perceber que assim consigam viver.
O silêncio é algo de que tendemos a esquecer o valor. Quantas vezes poderemos dizer que estamos, de facto, em silêncio? Hoje, a sociedade associa o silêncio à solidão, à tristeza, a uma fuga da realidade cada vez mais barulhenta e feérica, a uma fuga do mundo. Acredito que tudo isto se passe em cada monge que escolheu a vida da Cartuxa, apenas um factor não é semelhante, para eles o seu mundo não é o nosso mundo vulgar e comezinho, o seu mundo é o espiritual, e o “nosso” é apenas suporte físico intermédio numa relação permanente com o divino.
Será a clausura necessária para alguém poder dedicar a sua vida a Deus? Não creio, mas é uma forma como qualquer outra para alguém se encontrar consigo próprio e com Deus. Não será tão exótica esta opção de vida radical como será a dos hippies ou dos ciganos nómadas? Cada vez mais a sociedade nos manipula a acolher diferenças que se tornam politicamente correctas e que acabamos por ter de aceitar, porque não aceitar que alguém queira simplesmente ter o seu mundo sem incomodar ninguém?
Cinematograficamente o filme é interessantíssimo, pois mostra o enorme talento de Gröning para filmar em condições mais do que complicadas. Ele não podia utilizar as técnicas habituais, a sua câmara teria de ser crua e discreta, simples e sem artifícios. A beleza estética que resulta das imagens é impressionante e há planos inesquecíveis, tais como as orações nocturnas acompanhadas por cantos gregorianos ou os primeiros planos frontais dos monges. Não obstante, o mais notável no filme é a forma como o mesmo é montado e com isso consegue criar uma lógica argumentativa. A montagem consegue tornar o filme surpreendentemente ritmado, criando um ciclo repetitivo de tempos, um ciclo nunca fechado, permanente. A sequência de imagens alterna imagens da vivência dos monges – rezando, comendo, cantando – com a natureza em redor – com a maravilhosa natureza em redor e as suas montanhas cobertas de neves ou ribeiros correndo na primavera. Gröning consegue, através de uma brilhante realização e de uma fabulosa montagem., criar uma quase-hipnose ao longo do filme da qual apenas somos despertados quando as luzes se acendem. No final do filme, a sensação é a de que de facto estivemos na “Grande Chartreuse” por tempo indefinido, há um tempo indefinido. Enquanto o filme dura esquecemos o mundo, o nosso mundo, e compartilhamos a experiência de espiritualidade vivida pela oração, por uma vida de constante oração.

in Anarcoconservador, 30 de Outubro de 2006

29.3.07

O Grande Silêncio



Entrevista, em inglês, com o realizador Philip Groening, disponível aqui.
É longa, mas vale bem a pena ler.


Aproveito para juntar uma pequena história/reflexão sobre o filme, da autoria de Luís Onofre, sj, intitulada:

Adormeci no cinema e não vi o filme!

O bilhete não dizia em lado nenhum que era para um filme. E de facto, durante as 2h44m da sessão não vi filme nenhum. Fui convidado a contemplar a vida num mosteiro dos Alpes franceses. Sem música, sem artifícios, para poder procurar a intimidade com Deus (em silêncio e sem falta de tempo), tal como o fazem os monges cartuxos. Como diz a sinopse "um documentário que não representa um mosteiro, mas que se transforma num mosteiro". Parece interessante a ideia... Ao fim de 5 minutos já dormia. Passado meia hora acordei. E ainda tinha mais de 2h para poder aproveitar uma das melhores idas ao cinema de sempre.

A busca de Deus é muitas vezes assim. Ao início parece uma seca. Não acontece nada. Durmo. Farto-me. Apetece-me desistir. Se insisto e fico, aos poucos começo a entrar numa outra lógica, que me permite valorizar todas as coisas de forma distinta, que dá sentido, que me coloca com Deus. Que me dá uma paz calma, sem maquilhagem. Perguntaram ao realizador (o alemão Philip Gröning) se através deste documentário o espectador entende o que fazem os monges. Respondeu: "Não é algo que me importe. O meu filme não tem que dar resposta a todas as perguntas. [...] Hoje em dia estamos literalmente bombardeados de informação. O que falta - e que cada um deve descubrir em si mesmo - é o significado das coisas."
( http://parecianborrachos.blogspot.com/2006_12_01_archive.html)

Fórum Arquitectura Religiosa

18 e 19 de Maio, Póvoa de Varzim, Auditório Municipal
Mais informações (ver aqui)
Programa (ver aqui)
Inscrições (ver aqui)

23.3.07

Quarto Domingo da Quaresma





Outra homilia sobre Lc 15,1-3.11-32: Parábola do Filho Pródigo

SOBRE QUATRO FOTOGRAFIAS DE DUANE MICHALS
Uma fotografia é muito mais do que aquilo que se vê. Viajo por uma sequência de imagens.
O filho regressa, talvez do mundo, talvez disso que o mundo tem de solitário, de aflito, de remoto. Consigo imaginar o sofrimento expresso na sua nudez, ainda jovem. Mas a vulnerabilidade do pai que despe, uma por uma, suas próprias roupas e reveste, com elas, o filho, desconcerta-me ainda mais.
No cima da página, a legenda: O regresso do Filho Pródigo.
Mas podia ser também a história do amor. De todo o amor.

in O Vento da Noite, Assirio e Alvim, 2003.
(texto do blog 'O bom pastor')

21.3.07

Conferência

Ars Sacra. Formas de Religiosidade e Sacralidade nas Artes Decorativas Portuguesas. (ver aqui)

AE


Herz-Jesu-Kirche, Munique (ver mais)