29.5.07

«Eis o Homem»: extractos da intervenção do Cardeal Patriarca no encerramento da sessão sobre «A Beleza» (24.05.2007)

"Há duas palavras-chave que acabam por influenciar a acção pastoral da Igreja. Essas duas palavras são “convencer” e “atrair”. Convencer é o objectivo da palavra, da inteligência racional que leva à convicção. Atrair é, inevitavelmente, o efeito da beleza. A palavra convence, a beleza atrai.
Foi aqui dito pelo João Bénard da Costa que não havia nenhuma expressão da beleza de Jesus Cristo. Nisto eu não estou de acordo com ele. Pela pena do evangelista S. João, o próprio Senhor diz que “ninguém vem a Mim se o Pai não o atrair”; «ninguém vem a Mim se não se sentir atraído». E Ele atraía. Naquela crise provocada pelo discurso do pão da vida, depois do milagre da multiplicação dos pães, Pedro, em nome de todos, diz: «Senhor, a gente não te percebe, mas a quem havemos de ir? Só Tu tens palavras de vida eterna». Foi por ser atraente, irresistivelmente atraente, que Ele era seguido. Na missão da Igreja, os dois verbos têm o seu lugar.

Na missão da Igreja, os dois verbos têm o seu lugar. Mas sempre que a Igreja privilegia ou se limita a tentar convencer, perde parte da sua acutilância, da sua capacidade de trazer pessoas para o Mistério. (…)
[No seguimento do que foi dito esta noite, podíamos perguntar] porque é que os templos são belos? Podíamos continuar a pergunta: porque é que a Liturgia deve ser bela? Porque é que esta noite foi bela? É porque a Igreja, sempre, não se limitou a tentar convencer. Percebeu sempre que era preciso atrair.
Isto põe inevitavelmente a questão entre a beleza e a verdade. E temos várias abordagens desta questão, desde a Época Clássica, em que a beleza produzida na arte humana era considerada parte das imagens fugitivas, fugidias, e que portanto não podiam exprimir a verdade que pertencia ao mundo eterno das ideias divinas. Até João Paulo II, referindo-se ao bem e ao amor lhes chamou o “Esplendor da Verdade”, “Veritatis Splendor”.

A palavra e a beleza são duas linguagens da revelação do Mistério: a palavra revela, a beleza desvela. Foi aqui também dito esta noite que a verdade acaba sempre por relativizar, denunciar as formas humanas de beleza produzidas pelos artistas. Eu penso que é sobretudo a verdade captada no Mistério da Revelação – que é verdade, mistério e beleza – que interpela inevitavelmente todas as formas finitas já produzidas de beleza, que vão mais longe; e que a partir da luz que delas já brilha, uma luz maior possa brilhar.
A beleza é sempre um raio de luz que toca no coração dos homens e que nos apanha. A beleza é sempre, mesmo que não se saiba, uma experiência de eternidade, uma experiência do divino.
Muito obrigado a todos por terem participado nestas nossas sessões. Muito obrigado aos artistas, aos músicos que nos acompanharam, ajudando a criar aquela experiência concreta de beleza. Obrigado aos intervenientes desta noite, que foram realmente mãos santas com corações de santo. Muito obrigado."

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