19.4.07

“Fazer ver o invisível”


Ilda David - Genesis

A Bíblia aparece-nos disseminada pelo pensamento, imaginação e quotidiano. Ela continua a ser um texto, claro. Mas também, e de um modo irrecusável, a Bíblia constitui hoje um metatexto, uma espécie de chave indispensável à decifração do real. Da filosofia às ciências políticas, da psicanálise à literatura, da arquitectura explícita das cidades ao desenho implícito dos afectos, da arte dita sacra às formas da expressão que enchem, por toda a parte, galerias, museus, escaparates: a Bíblia é um parceiro, voluntário ou involuntário, nessa comunicação global.
Tem-se tornado justamente famosa a anotação de William Blake que chama às Escrituras judaico-cristãs «o grande códice», reconhecendo quanto a actividade simbólica e cultural do Ocidente foi ininterruptamente fecundada pelo texto e pela simbólica bíblicas. A Bíblia representa uma espécie de “atlas iconográfico”, “estaleiro de símbolos” ou “imenso dicionário”, como Claudel lhe chamou. É um reservatório de histórias, um armário cheio de personagens, um teatro do natural e do sobrenatural, um fascinante laboratório de linguagens. Desconhecer a Bíblia não é apenas uma carência do ponto de vista religioso, mas é também uma forma de iliteracia cultural, pois significa perder de vista uma parte decisiva do horizonte histórico e de sentido onde nos inscrevemos.

Alguns projectos recentes colocaram o texto Bíblico no centro da atenção criativa de alguns artistas plásticos portugueses de primeira grandeza: António Sena, Ilda David', Pedro Proença…

Para ver em exposição conjunta, no Mosteiro de São Vicente de Fora.
Maio de 2007

(Observatório da Cultura, nº8, Abril, 2007, Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura)

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